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CIUMENTOS


Considerado o “Pai da Química”, Antoine Lavoisier ficou famoso por inúmeros feitos.

Mas a frase que o eternizou na memória de todos é a que diz que “na natureza, nada se cria; tudo se transforma”. Foi com base nela que, séculos mais tarde, o célebre Abelardo Barbosa, mais conhecido como Chacrinha, jocosamente adaptou tal citação ao seu ambiente de trabalho dizendo o seguinte: “Na TV, nada se cria; tudo se copia”.

Pois bem: no futebol também é quase sempre assim. Vejamos o caso recente da invasão portuguesa no comando de alguns clubes brasileiros. O sucesso obtido em 2019 por Jorge Jesus no comando do Flamengo/RJ e o que desde 2020 vem conseguindo Abel Ferreira à frente do Palmeiras fizeram com que dirigentes de outras equipes se perguntassem: por que não no meu clube também? E aí, foi uma sucessão de “gajos” a desembarcar por aqui.

Neste momento, ganham seu pão por aqui, além do treinador palmeirense, também Vítor Pereira (Corinthians), Luís Castro (Botafogo/RJ) e António Oliveira (Cuiabá/MT). Mas a relação dos que já tentaram a sorte em terras brasileiras é bem maior e, apesar de os mais recentes – Paulo Souza (Flamengo/RJ), Ricardo Sá Pinto (Vasco/RJ), Jesualdo Ferreira (Santos) e Paulo Bento (Cruzeiro/MG) –, ainda estarem bem “frescos” na memória coletiva, há outros que também já voltaram à “Terrinha” e dos quais quase ninguém mais se lembra, como por exemplo Sérgio Vieira (Atlético/PR), Augusto Inácio (Avaí/SC), Paulo Morgado (São Raimundo/AM) e até Luís Miguel Gouveia, que trabalhou no País desde 2006 sempre à frente de equipes desconhecidas do Norte e do Nordeste brasileiros, e que nesta temporada fracassou dirigindo o Batatais, time que disputa a Quarta Divisão paulista.

Fiz todo este preâmbulo, que em meus primeiros anos de Jornalismo chamávamos de “nariz de cera”, para mostrar que os ciúmes dos técnicos brasileiros em relação a seus colegas portugueses não têm razão de ser. Os “portugas” desde há muito desembarcam por aqui, assim como os brazucas há tempos cruzam o Oceano Atlântico em direção a Portugal. Dois deles, por sinal, fizeram sucesso no comando da seleção portuguesa – Oto Glória e Luiz Felipe Scolari levaram a “equipa” lusitana a obter os melhores resultados de sua história em Copas do Mundo (4º lugar em 1966 e em 2006, respectivamente).

É claro que entendo que muitos dos nosso treinadores, ao verem estrangeiros assumindo o comando de importantes equipes – devemos lembrar que no momento há também os argentinos Juan Pablo Voyvoda (Fortaleza/CE), Fabián Bustos (Santos) e Antonio Mohamed (Atlético/MG) e o paraguaio Gustavo Morínigo (Coritiba/PR) –, percebem que o mercado se torna obviamente mais restrito. Aliás, desde 2019, já passaram pelo Brasileirão nada menos do que 19 técnicos gringos, o que é uma prova incontestável de que, hoje, os “professores” de cá já não desfrutam do mesmo prestígio que os “mister’s” de lá.

Por isso, em vez de esbravejarem via mídia contra seus colegas estrangeiros (mesmo que, vez ou outra, um ou outro forasteiro não consiga disfarçar o sentimento de superioridade que sente somente pelo fato de ter nascido na Europa), ao invés de quase surtarem quando o assunto é a possibilidade de um comandante não brasileiro assumir o lugar de Tite a partir de 2023, antes de tentarem diminuir e/ou não reconhecer o sucesso que alguns “gringos” fazem por aqui, deveriam é se reciclar, calçar as sandálias da humildade e tentar aprender o que de bom estes caras trazem para o futebol brasileiro.

Até porque o ciúme só é saudável – e ainda assim apenas em doses homeopáticas – quando o assunto é amor.

Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de muitos sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br



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