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  • Luís Carlos Quartarollo

Tal qual o nacionalismo radical, o estrangeirismo exacerbado também atrapalha o nosso futebol


Esse é o país do 8 ou 80. Não se busca uma boa média. Isso vale para os mais variados segmentos. Você tem que ser contra ou a favor. Não existe meio termo. Há uma nova geração de comentaristas/Repórteres esportivos que acha que todo o estrangeiro é bom. E há uma geração mais antiga, como a minha, que acha que os brasileiros são tão bons quanto, ou melhores, e dorme nos louros das vitórias passadas. É bom se buscar um encontro de ideias e de análises, se possível.



Eu já fui acusado de não gostar de técnico estrangeiro. Há razão até certo ponto, mas na verdade eu gosto mesmo de estrangeiro bom. Se o Santos, por exemplo, contratar Marcelo Gallardo, acharei excelente. Pode também não dar certo. Mas é uma aposta mais certeira do que apenas contratar alguém que parece bom e não tem currículo e nem história suficiente para dirigir um time grande aqui.



Ah, mas o Abel Ferreira deu certo no Palmeiras e estava no desconhecido Paok, da Grécia. Verdade, foi exceção e tenho dúvidas se daria certo se viesse para o Vasco da Gama, Santos, América e etc. Ele veio para um clube ajustado em todos os seus setores. Assim como Jorge Jesus também chegou no Flamengo no seu melhor momento depois da fase de Zico, na década de 80. Ah, mas eles não tem mérito? Claro que tem e muito. Só por fazerem boas escolhas já demonstram que estão atentos ao que se passa. Mas ao mesmo tempo que trazem coisas para o Brasil também estão aprendendo aqui. Jesus nunca mais na vida fará uma campanha como no Flamengo. Já Abel Ferreira tem tudo para ser um técnico Top em nível mundial. É jovem ainda.



Um dia Muricy Ramalho, que é reconhecido pela sua capacidade, mas também já foi muito criticado, disse que Guardiola tinha que trabalhar no Brasil para saber como é. O inteligente Guardiola respondeu: "Não houve proposta" e encerrou o assunto. Mas lembro que antes da final contra o Santos, Guardiola citou as agruras de se trabalhar na América do Sul e a cobrança sobre os seus colegas. Ele que sempre foi fã do futebol brasileiro e que em alguns momentos o usou de base para suas manobras dentro do campo, tinha conhecimento das dificuldades. Não é apenas o lado econômico que pesa. Passa também por organização dos clubes.



O nacionalismo radical atrapalha, mas o estrangeirismo exacerbado também, como citei na manchete. O Santos e muitos clubes são vítimas dessa onda, ou desse estrangeirismo da própria imprensa brasileira. Saiu contratando gente de fora só por contratar. Não analisou a situação. Sampaolli, que já tinha uma certa história, foi o melhor dos estrangeiros, na Vila. Mas Cuca foi muito melhor que ele.



Santos gastou à toa com Jesualdo, Holan e Bustos. Todos juntos não dão um Gallardo, ou um Guardiola, e custaram mais pelo pouco que fizeram. Não deixaram legado nenhum. Em meio a tudo isso teve Fernando Diniz, outro adorado pela imprensa, que é brasileiro, mas é fraco. Parece que o Mundo anda mesmo louco. O ruim agora é bom. Tem gente que gosta. Fazer o quê? Admito, talvez o chato seja eu que faço comparações com coisas que não existem mais. Pode ser. Tive a sorte de ver de perto grandes jogadores e grandes treinadores numa época que o futebol brasileiro ganhava de todo mundo. Tomara volte a ser assim algum dia.



Vários clubes brasileiros entraram nessa ciranda estrangeirista. Ramirez e Medina, no Internacional, Domenec, Paulo Souza, no Flamengo; Sá Pinto, no Vasco da Gama, e muitos que ainda estão por aí imunizados pelo simples fatos de terem passaporte internacional. O que estão fazendo é o mínimo que se espera. Pela expectativa que geram e pelo que ganham têm que fazer muito mais. Talvez não saibam além disso. A distância tudo parece melhor. De perto as virtudes e os defeitos aparecem mais.



Há mais um problema, ou mais uma cilada, em que se meteu o futebol brasileiro. Quando um técnico brasileiro é demitido normalmente fica credor do clube, que também não paga em dia, o que é uma lástima. Daí ele vai reclamar na nossa morosa e falecida justiça do trabalho. Quando é um estrangeiro ele vai direto à Fifa, a dívida é cobrada rapidamente e normalmente em dólar ou euro. Vale à pena tanta enrolação por nada?



Nem tanto a terra nem tanto ao mar, principalmente para um time que vive no Litoral como o Santos. É preciso escolher melhor. Contratar só porque o cara fala enrolado não é profissional. É apostar alto demais sem ter cacife para tanto. O bom é bom em qualquer língua, mas o contrário também é verdadeiro. É o que penso.






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