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QUEM DIZ A VERDADE NÃO MERECE CASTIGO


Ou pelo menos não deveria merecer.


O auxiliar-técnico do Palmeiras, João Martins, deverá ser severamente punido pelo STJD em razão das declarações que deu após o empate do Verdão com o Atlético/PR, no último domingo. Nelas, como todos já sabem, disse que em lances duvidosos (como a bola que cruzou ou não totalmente a linha do gol no jogo contra o Bahia/BA) ou mesmo escandalosos (como a violenta e covarde agressão praticada pelo zagueiro atleticano Zé Ivaldo sobre o centroavante palmeirense Endrick) normalmente sua equipe é prejudicada. E foi mais além: disse, também, que um mesmo time ganhar vários e seguidos torneios é ruim para o sistema.


E o assistente de Abel Ferreira está coberto de razão. É verdade que erros acontecem pró e contra todas os clubes, e que no Brasil, devido à incompetência da arbitragem e, sobretudo, dos árbitros que trabalham com o VAR, tais erros se sucedem e aumentam ano a ano. Mas quando disse o que disse, o português não mentiu: é fato, sim, que desde que o Verdão se tornou um dos protagonistas no futebol brasileiro e sul-americano o número de partidas em que foi prejudicado pelo pessoal do apito e do vídeo aumento de forma gigantesca, e que existe, sim, uma tremenda má vontade de entidades como FPF, CBF e até mesmo Conmebol para com o alviverde. E, sim, uma mesma agremiação ser campeã toda hora tira muito da graça do futebol, seja no Brasil, em Portugal ou em qualquer outro lugar do mundo.


A grande possibilidade de punição ao assistente-técnico se explica, em minha opinião, pela postura adotada pelo treinador palmeirense. Abel Ferreira, como já disse neste espaço, é arrogante, julga-se superior a todos nós apenas por ter nascido na Europa e tem certeza absoluta de que conhece todos os defeitos e sabe todas as soluções para os problemas do futebol brasileiro. Tal situação, aliada ao quase insano comportamento que tem à beira do gramado, tem lhe custado sucessivas suspensões e uma antipatia quase que geral da juizada e dos dirigentes (ou alguém já se esqueceu de que um dos vices da CBF chegou a dizer que o Palmeiras deveria perder pois, assim, não teria tantos jogos nem tantas finais para disputar?).


João Martins, por sua vez, disse exatamente o mesmo que diria seu chefe, mas o fez de forma mais educada, em tom de voz baixo, calmamente até. E talvez tenha sido isso o que mais irritou a CBF e a levou a divulgar uma ridícula nota oficial acusando-o até mesmo de ser xenófobo. Justo ela, que de joelhos espera há meses pelo “sim” de um treinador italiano para comandar a sua Seleção. Maior incoerência, impossível. Daí que o ato foi uma tremenda passada de recibo por parte da CBF que, indiscutivelmente, perdeu uma enorme chance de ficar calada ou, pelo menos, de responder as oito perguntas feitas na réplica divulgada pelo clube, as quais republico abaixo:


1 - Por que o comunicado da CBF é endereçado exclusivamente ao Palmeiras, sendo que profissionais de outra equipe da Série A fizeram, também ontem, comentários semelhantes aos do auxiliar técnico João Martins?


2 - Por que a opinião de um profissional português sobre o futebol brasileiro causou tanto desconforto à CBF se a própria entidade, como é de conhecimento público, busca um treinador estrangeiro para comandar a Seleção Brasileira?


3 - Qual teria sido a conduta “xenofóbica” de João Martins? Elogiar a qualidade dos jogadores brasileiros?


4 - Se a gestão da Comissão de Arbitragem investe tanto assim em tecnologia, por que o nosso VAR é incapaz de apontar objetivamente se uma bola ultrapassou ou não a linha de gol, como aconteceu no recente duelo entre Palmeiras e Bahia, pelo Brasileiro?


5 - Por que o atleta Zé Ivaldo, do Athletico-PR, não foi expulso ontem, após acertar uma cotovelada na nuca do atacante Endrick, em lance revisado pelo VAR?


6 - Por que no jogo entre Palmeiras e São Paulo, pela Copa do Brasil de 2022, o VAR não traçou a linha de impedimento no lance que originou o gol do nosso adversário e que nos custou a eliminação? Por que a imagem da revisão desta jogada sumiu?


7 - Por que a Comissão de Arbitragem da CBF, presidida por Wilson Seneme, nunca pediu desculpas ao Palmeiras pelo erro grave cometido pelo VAR na Copa do Brasil do ano passado?


8 - Por que o Palmeiras, na rodada seguinte após a mais recente Data Fifa, não pôde contar com nenhum de seus três atletas convocados para a Seleção Brasileira?


Como disse acima, João Martins deverá levar um gancho daqueles quando for julgado pelo STJD. E se isso de fato acontecer, nada mais será do que mais uma irrefutável prova de tudo o que ele disse no depoimento pós-jogo de Curitiba/PR.


E, desta forma, a CBF passará recibo mais uma vez.

­­­­­­­­­Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br.



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