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  • Foto do escritorFutebol em Rede

O dia que Dario Pereyra virou quarto-zagueiro

Eu prometi e vou contar a história que ouvi da boca do técnico Carlos Alberto Silva mais de uma vez.

Dario Pereyra chegou ao São Paulo para ser meio-campista e substituir outro uruguaio, El Verdugo, Pedro Rocha, um dos maiores jogadores da história do futebol, indicado por Pelé na época como um dos 5 melhores do Mundo, e que tinha virado ídolo também no Morumbi.

Não seria fácil substituir Rocha. Nem no coração da torcida e muito menos na bola por mais que jogasse. Mas Dario era uma revelação, foi uma contratação cara e na verdade nunca conseguiu fazer um bom jogo sequer com a camisa 10 do tricolor. Depois viveu um longo período de contusões sucessivas e deixou muita gente desconfiada que o São Paulo tinha feito um mau negócio.

No dia 13 de julho de 1980 sua vida começou a mudar para sempre. De jogador que gerava desconfiança começou a ganhar a aura de um dos maiores da história do São Paulo. Obra do técnico Carlos Alberto Silva que o convenceu a ser quarto-zagueiro num jogo contra o Corinthians. O titular Gassen estava contundido e também não passava nenhuma confiança ao treinador. Essa é que é a verdade.

Carlos Alberto, me disse num de nossos papos, que chegou a pensar em indicar a contratação de outro quarto-zagueiro, mas via em Dario Pereyra boas possibilidades de preencher a vaga. Foi difícil convencer o uruguaio: “Gringo, você é um grande jogador, mas para ser meia precisa ter muito mais qualidade. Se você jogar lá atrás, na quarta-zaga, você terá o campo todo à sua disposição e sua visão de jogo é muito boa. Vai dar certo. Topa ser quarto-zagueiro nesse jogo e depois a gente vê o que acontece?”.

Dario teria ficado relutante no começo da conversa. Veio para ser meia e ia virar zagueiro e ainda só porque Gassen estava contundido. Mas resolveu topar o desafio até para mostrar que estava a fim de ajudar. Dario sempre foi um cara compenetrado e ótimo profissional. O que se chama no futebol de bom de vestiário.

Então combinaram, ele e Carlos Alberto Silva, que jogaria na quarta-zaga e se sentisse bem teria mais 4 ou 5 chances de novo. Depois disso voltariam a conversar sobre o assunto. As partidas foram acontecendo e a dupla Oscar e Dario Pereyra começou a cair no gosto da torcida, da imprensa, a ser admirada pelos companheiros e pelos adversários tal era sua sintonia. Depois de três jogos como quarto-zagueiro, Carlos Alberto perguntou a Dario o que ele achava: “E, aí? Vai continuar na zaga ou quer disputar posição no meio-campo?”

Dario foi direto: “Seu Carlos, vou ficar na zaga. Acho que encontrei meu lugar no time” e Gassen nunca mais voltou a ser titular do tricolor.

Falecido Carlos Alberto Silva, era meu amigo, tenho saudades dos nossos papos, de vez em quando conversávamos por telefone e eu brincava com ele: “Como vai o treinador que inventou um dos maiores zagueiros da história” e ele respondia dando risada: “Não inventei nada, só observei, já era zagueiro, só que ele não sabia que era tão bom na posição”. Acho que nem o técnico achava que ia dar tão certo, mas deu. Coisas do futebol, aliás, do bom futebol.

Carlos Alberto Silva foi um cara vencedor e com muitas histórias para contar. Dias desses falo mais dele por aqui.

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