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Neymar desconhece a história do futebol brasileiro

Neymar fez mais um gol pela Seleção Brasileira, bateu mais um recorde e deve ultrapassar Pelé em números de gols oficiais, sem contar amistosos, pela Seleção. Não é pouca coisa, mas tenho que dizer que sou chato e qualifico os gols dentro da sua importância. Um gol contra a Jamaica ou Trinidad e Tobago, por exemplo, tem menos peso que um gol contra a Itália numa final de Copa do Mundo. Só para exemplificar, mas nos números frios a análise muda de figura e eu respeito.



Isso posto, vamos à choradeira de Neymar. Na saída de campo falando com o ótimo Eric Faria, da Rede Globo, aproveitou para alfinetar os seus possíveis detratores colocando todos num caldeirão só. "Ah, bati mais um recorde hoje e não sei o que fazer mais para ser respeitado com essa camisa". Foi bem o Eric ao pedir maiores explicações e do que ele estava falando. Ele saiu pela tangente. Disseram depois que não gostou de ser criticado no jogo, no Chile, quando estava visivelmente fora de forma e justifica-se por ser início de temporada. Acho que não é isso, não. Acho que ele é um craque mimado e não suporta que alguém o critique.



Neymar é o últimos dos gênios do futebol brasileiro, mas para seu azar só tem ele. Se tivesse nascido um pouco antes teria convivido com companheiros melhores que lhe dariam mais suporte. Guardadas as devidas proporções ocorre com ele o que ocorreu com Cristiano Ronaldo, uma máquina de jogar futebol que apareceu depois da geração de Figo e Companhia. Se tivesse aparecido pouco antes talvez Portugal tivesse conquistado mais coisas e ele também. Só para lembrar, Pauleta era o atacante daquele time de Figo. Acho que CR7 é melhor sem se esforçar e daria muito mais qualidade aos lusos. O mesmo se passa com Neymar.



Em que pese tudo isso, na minha opinião, tem ainda a história do futebol brasileiro que Neymar desconhece totalmente. A falta de cultura esportiva dos jogadores chega a ser uma coisa bisonha e não é de hoje. Um dia ouvi um lateral ruim chamado César, que jogava no Corintians, perguntar para Carlos Alberto Torres onde ele tinha jogado e ouvi também Palhinha, impressionado com a precisão dos chutes do seu Valdir de Moraes, perguntando se ele tinha sido jogador. Um torcedor comum não saber a história do capitão do Tri e de um dos maiores goleiros da história do Palmeiras, tudo bem, mas quem vive do futebol tem que saber. Eu acho, não é?



Para a Copa de 58, Neymar, o Brasil se classificou contra o Peru, com um gol de folha seca de Didi (será que ele sabe quem foi Didi e essa tal de folha seca?), o técnico era o mítico Oswaldo Brandão, que na Copa foi substituído por Vicente Feola, e a torcida vaiava esse time por causa do "fracasso" de 50. Didi foi um dos maiores da história e depois considerado o melhor jogador da Copa de 58 que teve como revelação um tal Pelé.



Depois do fiasco de 66, na Inglaterra, ninguém mais acreditava na Seleção Brasileira. Tanto que Oto Glória, técnico da Seleção Portuguesa, terceira colocada na Copa, e Dino Sani recusaram a Seleção com medo da pressão e não acreditando que em 70 haveria algo de bom. No hiato entre 66 e 70 a Seleção fez amistosos e teve um giro pela Europa sob o comando de Aymoré Moreira que tinha sido o técnico campeão no Chile, Feola estava doente na ocasião. Pelé pediu para não ser convocado, estava cansado, não se sabia se jogaria a Copa do México e Aymoré começava a montar um time pensando na ausência do Rei.



Nas Eliminatórias de 70, já com João Saldanha no comando, o Brasil arrasou todos os adversários e surgiu a dupla Tostão e Pelé, mas quando Saldanha caiu e entrou Zagalo ainda havia muitas dúvidas sobre a Seleção. O time saiu daqui vaiado para o México. Eu sei que talvez você não saiba, Neymar, mas aquele time de 70, que tinha todos aqueles gênios divinos saiu vaiado do Brasil. E ninguém chorou e nem pediu arrego, que nas últimas horas virou a palavra da moda no nosso país. Os caras enfrentaram a situação, ganharam a Copa e voltaram do México como a melhor Seleção de Todos os tempos.



Em 74 houve pressão imensa pelo tetra, que não veio. Em 78, idem e em 82 e 86, também havia pesadas críticas. Em 90, com Lazaronni, então nem se fala. O Brasil para chegar a Copa de 94 com 24 anos sem vitória nos lombos gerava desconfiança em todos. Depois da Copa esqueceram as críticas, mas alguns ainda reclamam que o time não jogava bonito mesmo tendo vencido. Em 98 as críticas eram as mesmas. Foi vice da Copa e para brasileiro vice não serve. Houve um boato de que os jogadores venderam a Copa, como se isso fosse crível. Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo e Zagalo, entre outros, foram execrados. Onde já se viu perder a Copa para a França?



Em 2002, o Brasil sofreu as Eliminatórias todas. Foi confirmar classificação no último jogo contra a Venezuela. Rivaldo, que já era astro do Barcelona, era criticado todos os dias. Os laterais Cafu e Roberto Carlos também. Um dia conversando com Rivaldo depois de receber insistentes vaias num amistoso, em Curitiba, ele desabafou: "Venho da Espanha para jogar pela Seleção, pago a diferença da passagem para vir mais confortável na primeira classe e chegar com menos dor no corpo, treino dois dias e vou para o jogo. Faço gols, corro como um louco e continuo sendo vaiado. (A zelosa CBF dava passagem executiva para um cara de quase 2 metros de altura),



EM TEMPO: O desabafo não foi ao vivo, foi apenas numa conversa com o amigo repórter. Coisas de uma época que jogador e imprensa conviviam muito mais que hoje. Nem foi notícia. Mas eu sabia do seu desconforto e sabia também que jogava sentindo dores, tanto que dois meses antes da Copa ficou apenas se tratando para jogar a Copa e para mim foi o melhor jogador da Copa de 2002, mas a Fifa deu o prêmio para Oliver Khan.



São apenas algumas situações que o mimado Neymar tem que saber. Se já desconfiaram de Pelé, Rivaldo, Ronaldo, de grandes times e de grandes jogadores e não pouparam vaias e críticas nem da torcida e nem da imprensa, você não é e não será diferente, Neymar. Só tem um jeito. Faça como eles, jogue tudo o que sabe, não arranje confusão e ganhe títulos. Títulos faz o torcedor esquecer tudo e às vezes até jogador meia boca, o que não é o seu caso, vira craque. Está dado recado. Pare de chorar e jogue bola, Neymar. Faça o que você faz melhor, o resto é consequência. É o que penso.








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