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  • Foto do escritorFutebol em Rede

A inveja que Pelé provoca nos mortais da bola


No final de 1998, fui à Vila Belmiro a trabalho. Antes do início do jogo, não me lembro mais qual era o adversário do Santos, estava no terceiro andar do estádio, próximo a um velho bar, que nem sei se ainda existe.

Esperava a chegada do lanche que havia pedido, quando uma pessoa ao meu lado bateu no meu ombro e disse: “Olha, o Pelé está acenando para você”.

Respondi: “Não pode ser para mim. Ele não me conhece”.

Olhei para o lugar onde o Rei do Futebol dava uma entrevista para um punhado de repórteres e vi que ele acenava realmente para a minha direção.

Fui ao seu encontro.

Ao chegar perto Dele, parodiando o narrador da TV Tupi, Walter Abraão, que se referia ao Pelé como Ele, assim mesmo, com E maiúsculo, recebi um afetuoso abraço.

Fiquei atônito.

Eu já havia entrevistado o Pelé algumas vezes, a última entrevista, para o Diário Popular, poucos meses antes daquele encontro, mas eu nunca fui um jornalista conhecido, talvez por ter trabalhado pouco tempo em televisão.

Fiz a minha carreira em jornais esportivos.

Pois que Ele, só continuou a entrevista depois de me abraçar e perguntar como estava a minha família.

Mais: perguntou como estava o meu filho, Rafael, que havia nascido um ano antes, a quem o Pelé presenteou com uma camisa dez, do Santos, claro, devidamente autografada por Ele.

A atitude me emocionou.

Nesta segunda-feira, 23 de outubro, o Rei estaria completando 83 anos.

Ele morreu em 29 de dezembro de 2022, de falência múltipla dos órgãos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Poucos dias antes de morrer, Ele disse aos filhos e à esposa Márcia, que gostaria que seu corpo fosse velado na Vila Belmiro. E assim foi feito. O velório foi no gramado do velho alçapão.

Personalidades do mundo do futebol, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, entre ele, foram prestar a última homenagem ao Atleta do Século.

Poucos ex-jogadores brasileiros estiveram presentes. Nenhum pentacampeão do mundo com a Seleção Brasileira apareceu.

Pelé, como se verifica mais uma vez hoje, dia de seu aniversário, é reverenciado em todo o planeta.

Pelé não será eterno.

Pelé É eterno.

E isso que Pelé foi e sempre será, eterno, imortal, provoca muita inveja em simples e comuns mortais da bola.

O sentimento de inveja ficou nítido no dia da conquista do penta. Pelé foi convidado para entregar a Copa do Mundo para o capitão Cafu, no gramado de Yokohama, no Japão.

Cafu ficou visivelmente contrariado.

Afinal, Cafu sabe que jamais será reverenciado como o Pelé eterno.


Wladimir Miranda cobriu duas copas do mundo (90 e 98). Trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, Diário Popular, Jornal da Tarde, Diário do Comércio e também na Agência Estado. Iniciou no jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou também na TVS, atual SBT. Escreveu dois livros,de grande aceitação no mercado editorial: O artilheiro indomável, as incríveis histórias de Serginho Chulapa e Esconderijos do futebol.

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