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SELEÇÃO: SE NÃO MUDAR A FILOSOFIA, NADA MUDARÁ

O time mais importante do mundo procura por um técnico.


Desde que Tite rescindiu seu contrato com a CBF de forma oficial, no último dia 17, o comando da Seleção Brasileira está acéfalo (se bem que, na opinião deste jornalista, assim também estava já havia muitos anos). E, claro, um novo nome em breve terá de ser anunciado, já que a primeira data Fifa de 2023 está marcada para o fim de março, quando deverão acontecer dois amistosos.

Da discussão se o novo ocupante do cargo pode ou não ser um estrangeiro, não vou participar. Da mesma forma, também não emitirei minha opinião a respeito do meu preferido para a função. O motivo? Estas duas questões, a meu ver, são secundárias, e em nada mudarão o atual estado das coisas se não houver, isso sem, uma mudança de filosofia de trabalho e do que é – ou deveria ser – a Canarinho.

Sei que prego no deserto e sou até ironizado por muitos, inclusive colegas de profissão, quando afirmo: enquanto a Seleção Brasileira não tiver pelo menos 50% dos seus jogadores convocados atuando no futebol brasileiro, nosso desempenho nas Copas do Mundo será igual ou ainda pior do que tem sido há 20 anos. É claro que as equipes mais fortes do mundo e os campeonatos mais equilibrados do planeta têm seus palcos no continente europeu e, consequentemente, os melhores jogadores também atuam por lá. Mas quando o assunto é a amarelinha, há de existir também a representatividade por parte do torcedor e, além dela, atletas que ainda não tenham atingido o patamar de “estrangeiros” em seu próprio País.

Para que o tema desta coluna não se restrinja somente à minha opinião, apresento-lhes números. Até 1974, toso os jogadores que disputaram Copas do Mundo pelo Brasil jogavam no... Brasil. Isso significa dizer que a Seleção se sagrou tricampeã mundial sem precisar de nenhum atleta que não atuasse em terras tupiniquins.

A primeira Copa do Mundo em que o Brasil contou com nomes que não atuavam em nosso País foi em 1982, quando Telê Santana chamou Dirceu (Atlético de Madrid/ESP) e Falcão (Roma/ITA), e quase foi execrado por causa disso. Mas foram apenas dois dentre 22, ou só 9% dos convocados. Quatro anos mais tarde, o mesmo treinador repetiu a dose, chamado Edinho (Udinese/ITA) e Júnior (Torino/ITA). Em ambas as competições, o título não veio, mas o bom futebol apresentado é, principalmente ao que se viu na Espanha, até hoje inquestionável.

A partir de 1990, a situação começou a mudar gradativamente. Sebastião Lazaroni chamou apenas 10 dentre os 22: Taffarel (Inter), Renato Gaúcho e Zé Carlos (Flamengo), Ricardo Rocha (São Paulo), Mauro Galvão (Botafogo) e meio time do Vasco: Bismarck, Acácio, Bebeto, Mazinho e Tita. Resultado: a pior campanha do Brasil em um Mundial desde 1966. Ah, sim: à época, o diretor de futebol da CBF era Eurico Miranda, também vice-presidente do Gigante da Colina. Entenderam?

Em 1994, exatamente a metade dos atletas chamados atuava no Brasil: Zetti, Cafu, Leonardo e Müller (São Paulo), Zinho e Mazinho (Palmeiras), Ricardo Rocha (Vasco), Branco (Fluminense), Ronaldo Fenômeno (Cruzeiro), Viola (Corinthians) e Gilmar (Flamengo). O resultado? Mesmo com muita dificuldade e um futebol pobre, tetracampeão mundial.

O número de “brasileiros” cai para somente 7 – Taffarel (Atlético/MG), Júnior Baiano e Zé Roberto (Flamengo), Gonçalves e Bebeto (Botafogo), Zé Carlos (São Paulo) e Dida (Cruzeiro) – quatro anos mais tarde, mas a campanha até que não foi das piores – afinal, o Brasil foi vice na França. Em 2002, a base de Scolari atuava no Brasil: Ricardinho, Dida e Vampeta (Corinthians), Rogério Ceni, Belletti e Kaká (São Paulo), Marcos (Palmeiras), Gilberto Silva (Atlético/MG), Ânderson Polga (Grêmio), Kléberson (Atlético/PR), e Luizão (Grêmio). Perceberam? Na última vez em que a Seleção levantou uma Copa, 13 (ou 59%) dos jogadores eram daqui.

Mas, a partir de então, seja por erros de escolha, seja por pressões de patrocinadores, seja por motivos ainda mais escusos, a situação degringolou de vez. Em 2006, Parreira chamou só dois (ou 13.6%) que jogavam no Brasil, ambos no São Paulo: Rogério Ceni e Mineiro; em 2010, Dunga – que assumiu a Seleção jurando que valorizaria os nossos clubes –, levou apenas um a mais do que seu antecessor: Gilberto, do Cruzeiro; Kléberson, do Flamengo; e Robinho, do Santos (mas, percentualmente, foi ainda pior – 13.0% –, já que o número de atletas, a partir daquela Copa, aumentou para 23.


Passam-se mais quatro anos e Felipão está de volta ao comando da Canarinho. Mas, ao contrário do que fizera 12 anos antes, diminui para somente quatro os “nacionais” dentre os 23 chamados: Jô e Victor, do Atlético/MG; Jefferson, do Botafogo; e Fred, do Fluminense. Acho que nem é preciso lembrar o que aconteceu contra a Alemanha, certo?


Chegamos à Era Tite e o escândalo piora de vez. Em 2018, o “encantador de repórteres” chama, dentre os 23, apenas três daqui: Cássio e Fágner, do Corinthians, e Pedro Geromel, do Grêmio. Resultado: 6º lugar. E agora há pouco, no fim de 2022, ele consegue ser ainda mais nefasto, convocado os flamenguistas Pedro e Éverton Ribeiro e o palmeirense Weverton dentre 26 – isso mesmo: 26!!! – atletas que foram ao Catar (ou ridículos 11.5%, a menor porcentagem de toda a história do futebol brasileiro). Resultado: 7º lugar. Ou seja: ainda pior do que em sua primeira Copa.


Se após ler tudo isso você ainda acredita que 70, 80, 90 ou até mesmo 100% dos jogadores da Seleção Brasileira devem atuar na Europa apenas porque lá estão os clubes mais ricos e os campeonatos mais equilibrados, sem problemas. Mas em julho de 2026, quando tiver terminado a Copa do Mundo do Canadá, dos Estados Unidos e do México, não reclame do fato de o Brasil, mais uma vez, ter adiado o sonho do hexa.

­­­­­­­­­Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br



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