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  • Foto do escritorFutebol em Rede

A confissão polêmica de Telê Santana


Telê Santana estaria completando nesta quarta-feira, 26/7, 92 anos. Acompanhei a trajetória do Velho mestre no São Paulo, como repórter do Diário Popular.


Presenciei de perto os anos de glória do treinador, bi da Liberta e do Mundial Interclubes, e também o período de declínio.


Em 96, quando ele já estava doente e fora do Tricolor, teve uma rápida passagem como gerente de futebol do Palmeiras/Parmalat, fui ao apartamento dele, no Leme, no Rio, para uma matéria especial.


Não levei repórter fotográfico, por uma medida, penso eu, de economia do jornal. Telê e a esposa Ivonete me receberam com muito carinho.


Fiz uma longa entrevista com ele, sempre com a Dona Ivonete por perto. Ele contou como estava sendo difícil a recuperação. E, principalmente, como era duro para ele ficar sem trabalhar.

Disse que estava com sintomas de depressão.


Em um momento da conversa, Telê ficou perto da janela da sala do apartamento, em um andar bem alto, e disse que muitas vezes quando estava naquele lugar tinha vontade de se atirar.


No relato, carregado de emoção, disse que se recordava de Castilho, goleiro que havia atuado com ele no Fluminense, e que, após ser treinador do Santos, campeão paulista de 1984, se matou, atirando-se do apartamento onde morava.


Falou tudo aquilo sem pedir para que eu não publicasse. Voltei para São Paulo no mesmo dia com o assunto martelando a minha cabeça.


“Escrevo o que ele falou, ou não escrevo”.


Detalhe importante.


A entrevista foi gravada na íntegra.


Tinha bem nítido o trecho em que ele falava da vontade de se jogar.


Ele viu que eu estava gravando.


Na época, não havia celular.


Gravei a conversa em um pequeno gravador. Que aliás guardo aqui em casa até hoje.


A matéria saiu no dia seguinte.


E, claro, o trecho em que ele fala em suicídio virou manchete no Diário Popular. Renê, seu filho, que também tentou ser treinador de futebol, e que não acompanhou a entrevista, desmentiu.


Disse que o pai dele não havia falado em suicídio.


Fiquei quieto.


Relatei o que eu havia escutado.


Sem estardalhaço, com respeito.


Decidi que só revelaria o teor da conversa se fosse processado por Renê Santana.

Não houve processo.


Meses depois, um repórter que trabalhava na TV Gazeta na época (não revelo o nome dele porque ele pediu para eu não revelar) me procurou para transmitir um recado de Telê Santana.


“O Telê pediu para te dizer que tudo o que o você escreveu é verdade. Que ele realmente teve pensamentos suicidas e que falou isso pra você durante a entrevista”.


Poucos meses depois ele morreu, em decorrência de complicações da diabetes e após uma isquemia cerebral.


Saudades, Velho mestre.


Wladimir Miranda cobriu duas copas do mundo (90 e 98). Trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, Diário Popular, Jornal da Tarde, Diário do Comércio e também na Agência Estado. Iniciou no jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou também na TVS, atual SBT. Escreveu dois livros,de grande aceitação no mercado editorial: O artilheiro indomável, as incríveis histórias de Serginho Chulapa e Esconderijos do futebol.

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