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  • Foto do escritorFutebol em Rede

ORA, BOLAS...


Você já imaginou como seria a sua vida se a bola não existisse?

Não me refiro somente à de futebol, que nos leva ao êxtase nas vitórias e à amargura nas derrotas dos nossos times. Falo de toda bola que você já teve, desde quando nasceu. Pode estar certo de que se não a tivessem inventado, seríamos todos, hoje, muito menos felizes.

Não sou de tempo da antiga bola de meia, feita com o único pé do mais velho par que se tinha em casa e que, muitas vezes, se recheava de laranja ou de qualquer outra coisa que fosse, digamos, ao menos levemente redonda. Tal bola faz parte de uma época que conheço apenas de ouvir falar. Quando corria atrás dela, o fazia nos tempos em que as calçadas de cimento eram, na nossa imaginação infantil, o gramado dos estádios, e as recém-inauguradas lâmpadas de mercúrio que iluminavam as ruas se tornavam, aos nossos olhos de criança, seus potentes refletores. A bola que chutei pra lá e pra cá em minha infância era de plástico ou, quando a mesada do pai permitiu, do velho e querido capotão.

O leitor mais jovem não sabe, por certo, o que foi uma bola de capotão, material parecido com o couro mas menos, muito menos nobre. Não sabe o quanto ela se fez importante na formação de muita gente que hoje já não lhe corre mais atrás porque o corre-corre da vida moderna a impede ou, então, desestimula.

Digo que a bola de capotão influenciou a vida daqueles que a tiveram ou disputaram pois foi através dela que aprendemos a buscar nossos objetivos com garra e determinação, foi ela que nos deu a alegria dos primeiros gols, foi ela, enfim, que também nos ensinou a superar as dificuldades quando não jogamos bem.

A bola de capotão, na verdade, nos deu uma amostra grátis de como seria a vida que teríamos pela frente: tal qual uma pelada de rua, com suas vitórias e derrotas. E assim como para vencer o jogo da calçada às vezes tínhamos que tabelar com a parede ou com a porta do carro estacionado, para vencer o jogo da vida também precisamos, muitas vezes, tabelar com o que tivermos ao lado. E, ingratos, quando após a tal tabela ficamos na cara do gol, nem nos lembramos de que aprendemos tudo com a bola - de capotão ou de qualquer outro material.

Foi por isso que, certa vez, de dentro do meu carro, gritei: “Cuidado!!!”, mas não adiantou: um motorista que estava à minha frente não se importou com o grupo de garotos que jogava futebol na calçada e nem pensou em parar quando a bola passou quase no seu nariz. Para ele, não havia a obrigação de diminuir a marcha e não atropelar o mais importante brinquedo de todo brasileiro. Mas seu estouro e a expressão de angústia e mágoa que isto causou nos rostos daqueles meninos me fizeram voltar no tempo – me fizeram lembrar da minha primeira bola de capotão.

É... Você nunca havia parado para pensar na importância que a bola teve na sua vida, não é? Mas não tem problema: se quando estiver dirigindo passar à sua frente uma bola – seja ela de capotão ou não –, pare: atrás dela sempre há uma criança que, assim como hoje aconteceu com você, um dia também perceberá que a bola foi muito mais do que um simples brinquedo em sua vida.

­­­­­­­­­Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br



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