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  • Foto do escritorFutebol em Rede

Manga e a mão que defende, a mão que pede e o cérebro tão torto quanto os dedos

Nessa semana se comemorou o Dia do Goleiro, dia do aniversário de Manga (26/04), um dos maiores da posição na história. Manga está para o Botafogo assim como Gylmar está para o Santos. Os melhores times de Santos e Botafogo tinham esses dois no gol. São inesquecíveis. Na Seleção, Gylmar se sobressaiu mais que Manga. Foi bicampeão do Mundo 58/62, além de inúmeros títulos importantes pelo Santos, enquanto Manga fracassou na Copa de 66, na Inglaterra, mas isso não tira o brilho da sua carreira nos clubes onde ganhou muitos títulos também.



Manga jogou de 1955, quando começou lá no Sport Recife, até 1982, encerrando a carreira no Barcelona, de Guayquil. Foram 27 anos debaixo das traves. Seus melhores momentos, além do Botafogo, foram no Nacional, do Uruguai, e Internacional, de Porto Alegre. Também passou por Operário, de Mato Grosso, Coritiba e Grêmio. Gastou as mãos e o dinheiro que ganhou com elas e o fim da vida está difícil. Hoje vive no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, por obra do ator Stephan Nercesian, botafoguense fanático e fã do goleiro, que o levou para lá. Muitos perguntaram: "Mas Manga foi artista para viver no Retiro dos Artistas?". Foi artista, sim. Fazia com as mãos o que a maioria dos mortais não faz e pintava defesas impressionantes.



Quem vê as mãos de Manga, hoje aos 85 anos, com os dedos tortos, pode imaginar sua história numa época que goleiro era mais vocação que profissão. Antes se jogava sem luvas e depois com luvas ruins. Hoje as luvas quase jogam sozinhas de tão confortáveis que são. Manga era um grande goleiro tecnicamente falando e muito corajoso também. Se arriscava, dividia com as mãos nos pés dos atacantes e os atacantes não tinha dó, metiam o pé. Sobravam grandes e corajosas defesas e dedos quebrados e tortos para sempre.



Fora de campo o cérebro também era "meio" torto. Manga era para estar bem melhor de vida, contando suas façanhas para os mais jovens e sendo até mais respeitado. Mas resolveu viver a vida intensamente enquanto dava. Talvez não esperasse viver tanto. Um dia estava no velho Parque Antártica esperando um treino do Palmeiras, que na época era dirigido por Rubens Minelli, que tinha comandado o grande goleiro no Internacional campeão. De repente passa por nós da imprensa um senhor com a cara cheia de furinho, aquela que lembra areia mijada, e entra nos vestiários querendo falar com o treinador. Até os seguranças tomaram um susto. Era Manga. Ele ainda impressionava pelo porte físico.



Pouco depois saiu da mesma maneira que entrou. Sem olhar para nós foi embora. Talvez até envergonhado ou pressa mesmo. Alguns o reconheceram, outros não. Daí Minelli, me diz: "Você viu o Manga aí? Sabe o que ele queria?" O que seu Minelli? "Está na pior, veio pedir dinheiro" e Minelli, é claro, deu, mas estava triste com tal situação. E acrescentou: "Não adianta, logo ele volta para pedir mais. Não se ajusta".



Daí a gente fica pensando. Pode acontecer com qualquer um, é claro, mas um cara como ele devia ter mais tranquilidade para viver agora. Você é refém do que faz na vida inteira, mas também eram tempos diferentes. Mais românticos, não havia alguém para ajudar, ou talvez também não quisesse ouvir ninguém. Garrincha também morreu com bem menos do que merecia. É certo também que cada um escolhe seu caminho, mas não deixa de ser triste. Não deixa de ser um exemplo para todos que um dia chegam ao topo. A queda machuca mais quando você está muito alto. Por isso é bom preparar algumas boas almofadas para aliviar o tombo. Isso vale para todos nós.





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