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  • Foto do escritorFutebol em Rede

Já fui idiota, passei vergonha e aprendi a lição

Nesses tempos de negacionismo das mais variadas pessoas e classes eu ainda fico assustado com a situação, mas chego a entender a ignorância e a desinformação de certas pessoas. Já fui assim. Acredite. Fui idiota, passei vergonha e aprendi. Hoje quando vejo gente discutindo se deve ou não usar máscara, se deve ou não tomar vacina, penso em algo que aconteceu comigo. Eu podia escrever hoje sobre Flamengo, Atlético Mineiro, arbitragem, Palmeiras finalmente mais corajoso com um futebol mais ofensivo, sobre a péssima fase do Santos namorando o Rebaixamento, mas decidi que já era hora de contar essa história.



Em novembro de 2011, eu ainda estava na Jovem Pan, e o seu Tuta, o melhor patrão que tive, me avisou: "Pode esquecer suas férias logo depois do Brasileiro. Você vai vai ao japão acompanhar o Mundial com o Santos F.C. Tire férias depois. Aqui estão as passagens. Embarque é no dia 2 de dezembro. Veja o que precisa, quanto vai levar de dinheiro, vá ao Consulado Japonês e tire seu visto o quanto antes. É uma escala, mas também é um presente".



Quem trabalhou com seu Tuta sabe que ele era dado a esse tipo de coisa. Mostrava reconhecimento e no nascimento da então TV Jovem Pan na Internet (o Rádio com imagem) andava tão feliz que dava uns envelopinhos para adoçar o fim de ano. Coisa impensável nos dias de hoje. Às vezes a soma era tão boa que dava para guardar salário e décimo terceiro e gastar só o envelope. Vinha tudo em dinheiro vivo.



Isso à parte, lá fui eu para o Japão desembarcando em Toquio e daí de trem para Toyota, onde seria a base de treinamento dos clubes. O primeiro jogo em Nagoya e a final em Yokohama. O Felipe Mota, hoje na Disney, era repórter de Fórmula 1 na Jovem Pan e garantiu que eu ia adorar o Japão. Conhecia muitos países, mas nunca tinha estado no Japão. Ele tinha razão, algo fora do comum pelo respeito as pessoas, as leis e a educação. É claro que tem seus problemas também, tem até a Yakusa, a violenta Máfia japonesa, mas no geral dá de 200 a zero no Brasil.



Logo nos primeiros dias nas idas e vindas de treinos fui conhecendo e me inteirando dos principais pontos locais como sempre fiz em minhas viagens a trabalho ou não. Gosto de conhecer lugares e me inteirar da história. O Muricy Ramalho tinha mania de treinar à noite por ser a hora dos jogos. O frio era intenso. Um dia ele diz: "Quartarollo, hoje está melhor que ontem, hein? Ontem estava menos 5, hoje está menos 3". Só rindo mesmo: "Ah, que bom, Muricy, realmente grande diferença. Nem estou sentindo o frio".



Só para lembrar, até porque é inesquecível, o Barcelona treinava de manhã e passeava o resto do dia. Foi campeão do Mundo enfiando 4 no meu Santos. Foi também uma das vergonhas que passei em terras japonesas. Que ia perder, não tinha dúvida, mas ficamos assistindo o Barça jogar. Aí não deu mesmo. Nossa primeira falta foi do Edu Dracena aos 13 do segundo tempo. Sou contra o anti-futebol, mas se deixar Messi e Companhia à vontade vira basquete.



Numa dessas andanças estava com uns japoneses que falavam um bom português e encontramos um grupo na rua que veio todo mascarado e passou do nosso lado como se estivesse nos evitando. Eu, muito idiota, digo: "O que eles pensam que somos, está certo que não somos de primeiro mundo, não somos muito educados, mas não temos doença contagiosa para nos evitar desse jeito. Mete essa máscara aí para não se contaminar, é?



Aí veio a resposta de um dos japoneses do grupo: "É o contrário, eles estão evitando que vocês se contaminem. Há um surto de gripe nessa região da cidade e todos andam de máscara para não passar o vírus. Eles se protegem e protegem os outros. Isso é coisa milenar. Até o cumprimento com reverência ao invés de tocar no outro nasceu por causa de epidemias passadas. Não é direito infectar os outros se você está doente. É mais que isso. É respeito, é humano e um ato de amor ao próximo". Devo ter ficado mais vermelho que tomate que cai do pé de tão envergonhado. Eu não devia fazer gozações, eu devia agradecer a essas pessoas. Eles estavam cuidando de mim sem mesmo me conhecer.



Por isso toda a vez que vejo alguém reclamando por usar máscara, se recusando a tomar vacina, eu volto a 2011 e repito para mim mesmo: "Que coisa triste. Um dia eu também fui tão idiota. Ainda bem que aprendi a tempo e não prejudiquei ninguém". O resto é só ignorância mesmo. Boa semana, gente.
















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