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ENTRE O BACALHAU E A FEIJOADA HÁ MUITO O QUE APRENDER

Carta aberta ao treinador da S. E. Palmeiras, Abel Ferreira.


Prezado senhor.



Inicialmente, gostaria de parabeniza-lo pelo sucesso que vem obtendo à frente deste que é o maior campeão do futebol brasileiro e, por consequência, um dos mais importantes clubes do mundo. Os resultados, as finais e os títulos que, sob o seu comando, tem obtido o Verdão são provas incontestes de sua capacidade como profissional e, também, como gestor de grupo, pois só quem conhece o futebol sabe o quão difícil é executar com competência tais missões.


Mas o motivo desta mensagem pública é outro. Na verdade, nem deveria ser este colunista a dizer o que ora lhe direi, mas sim alguém de sua diretoria ou da assessoria de Imprensa do seu clube. Mas, como até agora é óbvio que isso não aconteceu, eis-me aqui a tentar ajudá-lo a entender o nosso futebol e, paralelamente, também a melhorar um pouco sua imagem perante a Imprensa e até mesmo torcedores de outros clubes. Sendo assim, de forma a facilitar seu entendimento, agirei de forma didática.


1 – O senhor tem razão quando reclama do calendário do futebol brasileiro. Mas está errado ao fazer de conta que este é um problema exclusivo da gente. Na verdade, Campeonato Nacional, Copa do País e torneios continentais existem também na Europa. Por isso, nossa única exclusividade são as competições estaduais. Só que o senhor já sabia que elas existiam antes de aceitar o convite do Palmeiras, certo? Portanto, tocar neste assunto a cada coletiva pós-jogo irrita quem as acompanha e passa a imagem de que seu objetivo, na verdade, é desviar o foco e não responder diretamente às perguntas que lhe são feitas, algo aliás facilmente perceptível até mesmo a repórteres em início de carreira.


2 – O senhor tem razão quando afirma que, hoje, nem todos os que escrevem ou falam sobre futebol têm capacidade para fazê-lo (e aqui a culpa deve ser dividida entre as redes sociais e as empresas de Comunicação que dão vez e voz a pseudoanalfabetos). Mas está errado ao se julgar capaz de avaliar qual jornalista entende e qual não entende do assunto. E o motivo é simples: o senhor não tem formação profissional na área. Portanto, não está capacitado a considerar boa ou ruim uma pergunta lhe seja feita. Ao senhor cabe o direito, apenas, de respondê-la ou não. Em outras palavras: no que diz respeito a Jornalismo Esportivo, o senhor é um leigo e, portanto, não está apto a agir e a se postar como se dele fosse um expert.


3 – O senhor tem razão quando insinua que os clubes brasileiros não sabem gerir corretamente suas finanças. Mas está errado quando, em uma entrevista coletiva pós-jogo (ou seja: totalmente fora de questão), afirma que o Palmeiras deveria vender uma de suas revelações da base e investir o dinheiro em melhorias estruturais aos seus jovens talentos. E erra por dois motivos: o primeiro é que as condições oferecidas à base palmeirense já estão entre as melhores do mundo, prova disso são os inúmeros títulos regionais, nacionais e internacionais conquistados nos últimos anos pela molecada alviverde. Já o segundo motivo é mais simples: se a grana é do Palmeiras, ele faz com ela o que quiser – não é da sua conta. Talvez o senhor não saiba, mas existe no clube um Conselho de Orientação e Fiscalização, cuja missão é justamente orientar e fiscalizar os gastos.


4 – O senhor tem razão quando pede para a torcida incentivar sempre seu time, principalmente quando o momento é ruim. Mas está errado ao querer determinar o que a galera palmeirense deve ou não cantar e gritar nas arquibancadas. Os gritos de “olé” ouvidos na Arena Barueri no fim do clássico com o Corinthians fazem parte da cultura do nosso futebol, não ofendem ninguém e não devem ser tolhidos e muito menos proibidos apenas porque o senhor não gosta.

Sei, prezado Sr. Abel Ferreira, que todo europeu se julga superior a todos os demais habitantes do planeta. No caso do português em relação ao brasileiro, isso fica ainda mais claro dadas as históricas relações – nem sempre honestas do lado rubro-verde nos tempos de colonização – entre os dois países. Mas no que diz respeito a futebol, a situação se inverte completamente. Portugal só poderá ditar regras ao Brasil quando suas “equipas” vencerem 21 Champions League (número de títulos que temos da Libertadores) e 11 vezes o Mundial Interclubes, seus jogadores forem eleitos 8 vezes os melhores do mundo ou sua seleção vencer 9 Eurocopas (número de títulos que temos da Copa América) e 5 Copas do Mundo. Enquanto isso não acontecer, sugiro que o senhor continue a desempenhar com competência o seu trabalho, a levar o Palmeiras a vitórias e títulos mas, ao mesmo tempo, passe a calçar as sandálias da humildade e pare de ditar regras como se fosse o único ser vivo no planeta a entender de futebol.


Até porque, Sr. Abel Ferreira, o senhor ainda tem muito bacalhau a aprender até poder ensinar a nós mesmos a nossa própria feijoada.

Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br



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