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  • Foto do escritorFutebol em Rede

Chicão, o jogador que não sentia dor

Nesses tempos de tantas avaliações e diagnósticos avançados há muitos jogadores que parecem se sentir amparados pela dor. O que tem de tornozelo de vidro por aí é uma grandeza. Os mais comentados dos últimos tempos são Benítez, do São Paulo, e Luiz Adriano, do Palmeiras. O que acontece com esses caras? Tem muita sensibilidade a dor? É psicológico? Tem problema clínico insolúvel? Ou é "frescura" mesmo?



Por isso nas últimas horas me lembrei muito de Francisco Jesuino Avanzi lá da minha Piracicaba para o Mundo. Chicão era um jogador forte, bom de bola, que não evitava dividida e se impunha no campo. Morreu cedo demais com um câncer que o levou, mas deixou marcas importantes até em Copa do Mundo. Aquele jogo com a Argentina, em Rosario, em 1978, entrou para a história. O ex-presidiário e falecido Luque e o genial Kempes que o digam. Não se atreveram a entrar muito na área. Chicão fez um risco no meio-campo.



Isso sem falar que antes do jogo o técnico Cláudio Coutinho, que tinha muito da boa psicologia, mandou os jogadores darem uma volta no gramado para sentir o clima arredio dos argentinos. Os torcedores xingaram os brasileiros de tudo quanto foi nome e alguns mais exaltados ameaçavam até fisicamente. Diante disso, era melhor voltar para o vestiário, mas Chicão continuava lá contemplando o estádio. Alguém,gritou: "Vamos, Chicão, já chega, os caras estão ficando bravos". O volante não se fez de rogado: "Lá na várzea de Piracicaba eu jogava em fazenda com nego bravo, jogava no Risca Faca, vou ter medo desses caras? Nunca". E não teve mesmo. Só fez aquele jogo na Copa e entrou para a história.



Mas tem a história do cara que não ligava para dor. Quando Chicão foi contratado pelo Santos junto com Palhinha, em 1982, ambos do Atlético Mineiro, o doutor Carlos Braga fez os exames médicos e viu que o volante não tinha mais joelhos. Estavam arrebentados. Diante disso avisou Chicão que teria que vetar sua contratação, não dava para jogar daquele jeito. Chicão disse que tudo bem e que não ficaria magoado. Sabia dos seus problemas.



Daí quando Carlos Braga informou ao presidente do Santos que tinha vetado Chicão, ouviu de Rubens Quintas Ovalle: "Tudo bem, Doutor. Eu assumo. Ele vai ficar. Sei que ele tem problemas, mas veio junto com o Palhinha, não custou nada e vai ajudar a passar experiência para essa garotada. Obrigado pela informação, mas ele fica. Pode deixar".



Diante disso, mãos lavadas, vai lá o Dr. Braga levar a notícia para Chicão: "Olha, eu vetei você no exame médico, mas o presidente disse que que você vai assinar contrato. Ele assumiu a situação". A resposta do atleta foi direta: "Dr., fique tranquilo. Eu vou jogar todos os jogos. O senhor vai ver".



Pois Chicão jogou todos os jogos possíveis e imagináveis. Deixou os médicos boquiabertos. A cada jogo que acabava a cena comum era Chicão sentado no chão do vestiário com aquelas pernonas estiradas com dois sacos de gelo em cada joelho. No dia seguinte ia para o treino e jogava normalmente. Lidava com a dor como se fosse uma companheira fiel e que o desafiava. Impressionante para aqueles dias e para hoje também. Mas vou dizer uma coisa. Não foi só Chicão que fazia isso, muitos outros também. Parece que o jogo era um anestésico para a dor. Segundo o doutor Carlos Braga, foi o que menos lhe deu trabalho no Departamento Médico.



Esse era Chicão, um jogador valente que tinha medo de sapo, mas não tinha medo da dor e nem dos adversários. Fez história no São Paulo, no Atlético Mineiro, na Seleção Brasileira e antes esteve no XV de Piracicaba, onde começou, São Bento, União Barbarense e Ponte Preta. Foi uma descoberta do genial Cilinho, na época técnico do NHO QUIM.



Em tempo: O bairro Risca Faca existe mesmo, em Piracicaba, minha cidade e também de Chicão, que era da região de São Dimas e pretendia na vida só ser Torneiro Mecânico, mas virou grande jogador de futebol. O Risca Faca, até pelo nome, era um lugar perigoso e tinha time amador por lá também. Dizem que foi lá que surgiu uma velha piada contada até hoje. Contam que alguém resolveu ir numa boate, ou num inferninho, como queiram, no bairro e quando chegou o porteiro perguntou: "O senhor está armado?". O cidadão respondeu que não: "Então toma essa faca que a coisa lá dentro tá feia".



Em tempo2: Antes que alguém apareça aqui dizendo que Chicão quebrou Angelo, do Atlético Mineiro, na final do Brasileiro de 77, essa não é a verdade. Quem quebrou Angelo foi Neca numa dividida covarde no meio da canela do adversário. Num tempo em que não havia VAR e a transmissão de TV só tinha no máximo 3 câmeras, Chicão ficou com a fama. Ele me disse numa entrevista que achou que Angelo estava fingindo e deu toque com o bico da chuteira pedindo para ele se levantar, mas o caso era grave mesmo. Aí todos dissera que Chicão pisou no cara quebrado. Após o São Paulo, Chicão foi justamente para o Atlético Mineiro e jogou com Angelo, de quem morreu amigo. Aliás, ambos já morreram. Esse fato foi muito bem dissecado por João Leite, goleiro daquele forte time do Atlético, em um bom papo para o FUTEBOL EM REDE ENTREVISTA há pouco tempo. Está no nosso Canal do Youtube à sua disposição: youtube.com/futebolemrede





















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