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As imagens que não valem mil palavras

As imagens que não valem mil palavras. Um dia no "Cartão Verde", da TV Cultura, comandado na época pelo companheiro Flávio Prado, resolveram fazer uma justa homenagem a Canhoteiro, ponteiro-esquerdo histórico do São Paulo nas décadas 50/60.



Aqueles que o viram jogar diziam que era o Garrincha da esquerda, um gênio sem as pernas tortas, mas com os mesmos dribles e ousadia. Diziam que ele não precisava mais que um espaço do tamanho de um lenço para conseguir driblar o adversário. Muitos laterais sofreram com sua divina arte. Quem sou eu para duvidar da história tão bem contada e tão bem vista? Acredito piamente em tudo isso.



Mas por ser de um tempo pré-TV, o único lance que a Cultura tinha era um drible errado de Canhoteiro saindo pela lateral com bola e tudo. Ia contra o que se dizia da sua categoria. Eu disse no dia seguinte ao Flávio Prado: "Era melhor não mostrar aquele lance. Agora quem não o viu jogar vai dizer que inventaram coisas sobre ele, que foi superestimado". Essa imagem não faz justiça ao que Canhoteiro jogava. Tenho certeza absoluta disso.



Estou contando essa história porque depois de rever a final de 94 continuou com a mesma ideia de quando vi o jogo na época. Foi modorrento, com muito calor, com dois times insossos em campo, muita marcação, poucas jogadas de categoria e uma prorrogação arrastada para se chegar aos pênaltis, que foram as únicas coisas emocionantes do jogo. De resto pouco aconteceu. A emoção de Bebeto, Romário e Galvão Bueno na reprise da Globo foi mais original que o jogo em si.



Lembro que naquela Copa, eu estava lá pela Jovem Pan, já no começo Franco Baresi fez uma artroscopia no joelho e diziam que não jogaria mais o torneio, mas eis que na final reapareceu e botou Romário no bolso. Mas o baixinho mesmo bem marcado era um grande jogador e ainda teve chances e perdeu. Uma delas nem ele acreditou. Vi muita gente ao ver a reprise na Globo elogiando o grande futebol do Dunga e quando Dunga joga um grande futebol tecnicamente falando é porque alguém do time jogou abaixo do se esperava.



O ponto alto daquele time era a dupla de zaga Aldair, um dos maiores zagueiros da história, e Márcio Santos, que depois parece que desaprendeu a jogar futebol. Jorginho e Branco eram ótimos laterais e Mazinho dava muita qualidade ao meio-campo. Mauro Silva tenha sido talvez o maior cão de guarda da história da Seleção, defendia mais do que atacava, mas neste jogo chutou uma bola na trave. Coisa rara na sua vida. A dupla de ataque era muito boa: Romário e Bebeto, mas na final não funcionou tão bem. Os italianos sabiam marcar como ninguém.



O ataque tinha jogadores de destaque inclusive na reserva; Viola, Müller e um Ronaldo, que ainda não era chamado de Fenômeno, mas já era um Fenômeno e nunca entrou em campo na Copa. Eu brincava que naquela Copa ele trabalhou menos que eu e o Wanderley Nogueira. Estava lá também por causa da superstição do futebol brasileiro que tinha que levar um garoto para ganhar a Copa. Em tese deu certo, mas Evair voava no Palmeiras e até o próprio Edmundo já um jogador de destaque, podiam ter ido. Dariam mais opções ao técnico Parreira, mas não foram.



Teve o lance do Viola, que entrou na prorrogação, driblou 3 italianos e ao invés de chutar tentou passar a bola para alguém que não era ninguém. Escolheu a pior jogada. Se tentasse o chute poderia fazer o gol, obrigar o goleiro Pagliuca a fazer uma grande defesa e até ganhar um escanteio. Mas até hoje não entendo porque não tentou chutar, afinal era um artilheiro. Ele diz que de rabo de olho viu uma camisa amarela entrando pela direita e tentou o passe. Perdeu a chance de se consagrar e evitar os pênaltis, mas acabou campeão do Mundo do mesmo jeito.



Mas voltando as imagens agora repetidas, elas não são das melhores coisas que o Brasil já fez em campo. Tivemos times melhores que esse de 94 que não ganharam. Valeu pela conquista que era importante para um país que já não ganhava há 24 anos e diante disso Parreira fez o certo. Armou um time forte para se defender, bem distribuído quando tinha a bola e confiou que a dupla de ataque faria pelo menos um gol por jogo. Com isso faria tudo para não tomar gol. Destoou contra a Holanda quando fez seu melhor jogo na Copa, em Dallas, e venceu por 3x2, num jogo em que o adversário jogou de igual para igual com um Bergkamp inspirado. Talvez o holandês tenha sido o melhor em campo, mas perdeu o jogo.



Para os que não viram a conquista, principalmente esse pessoal da Rede Social que acha que o futebol começou na virada do século, deve ter sido um prato cheio. Hoje estão dizendo assim: "Ah, jogo ruim, modorrento, sem qualidade". Tem até razão, mas lembrem-se que o jogo foi ao meio dia com sol a pino e teve 120 minutos e mais os pênaltis. A sensação térmica no gramado era de 40 graus. Ninguém ia se arriscar a fazer um jogo de alta velocidade sabendo que talvez tivesse que jogar a prorrogação. Administraram a situação e o jogo ficou mais lento e mais feio. Essa é a história e isso tem que ser respeitado. Sempre.


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