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A HORA E A VEZ DA “PACHECADA”


Tenho por princípio não criticar colegas de profissão.

E o motivo é muito simples: se o fizesse, faltaria com a ética profissional. Mesmo que a opinião de um jornalista seja diametralmente contrária à minha, jamais me oponho publicamente – no máximo, troco mensagens pessoais com o autor, e ainda assim somente se entre mim e ele houver intimidade suficiente para tanto. Da mesma forma, na página esportiva que mantenho na internet, também veto que leitores critiquem jornalistas esportivos (o que, obviamente, não se se aplica a ex-jogadores que se travestem como tais e que numa proporção geométrica emporcalham a nossa mídia cada dia mais).

No entanto, sinto-me imbuído a abrir uma exceção desta vez. Não vou, pelos motivos citados acima, citar nomes, mas os colegas presentes à coletiva de Imprensa do técnico Tite após a divulgação da lista dos 26 jogadores que irão ao Catar mais se pareciam com “focas”, como são conhecidos os jornalistas em início de carreira, do que com integrantes da elite jornalística esportiva do País. Com exceção dos questionamento sobre a convocação do lateral-direito Daniel Alves, um dos maiores absurdos em toda a história da Seleção Brasileira, todas as demais perguntas foram bolas levantadas na medida para o treinador cabecear, marcar o gol e correr para o abraço. Até uma declaração do comandante aos que poderiam ir, mas não foram, foi solicitada por um repórter, numa clara intenção da facilitar a vida do treineiro. Isso me revirou o estômago.

Tal postura da crônica esportiva não é incomum. Aliás, sempre que chega a época da Copa do Mundo um ufanismo generalizado toma conta de toda a mídia. E se mesmo quando viaja ao local de disputa sob muita desconfiança os “pachecos” dos microfones e dos bloquinhos não abrem mão de dar aquela força à Canarinho, imagine então desta vez, em que o Brasil é apontado por todos senão o maior, pelo menos um dos maiores favoritos à conquista do título.

Sempre digo que todo jornalista tem o direito de torcer; o que ele não tem direito é de distorcer. Então, é claro que respeito o fato de inúmeros de meus colegas escancararem seu apoio ao selecionado nacional. O problema é que tal postura inibe, ou em muitos casos até mesmo impede, a avaliação crítica por parte daqueles que têm a obrigação de fazê-la. Para exemplificar, cito quatro perguntas que não foram feitas a Tite, mas que teriam sido se este jornalista estivesse presente na entrevista coletiva.

1 – O Campeonato Brasileiro é reconhecido por quase todo o mundo como um dos mais equilibrados do mundo. Então, por que apenas 3 (ou somente 11.5%) dos atletas chamados atuam no Brasil?

2 – Na próxima segunda-feira, a CBF realizará a entrega do prêmio aos melhores jogadores do Brasileirão/2022 e, ao que tudo indica, Gustavo Scarpa será escolhido o “Craque do Campeonato”. Levando-se em conta que o Brasil estreará dentro de apenas 17 dias e que, como muitos afirmam, “Seleção é momento”, por que o meia campeão pelo Palmeiras nunca teve uma chance?

3 – Não tenho nada contra os atacantes convocados, mas será que nomes como Gabriel Jesus ou Gabriel Martinelli foram escolhidos no lugar, por exemplo, de Gabriel Barbosa, o Gabigol, do Flamengo/RJ, campeão da Copa do Brasil e da Copa Libertadores há poucos dias porque estão em melhor fase ou apenas porque atuam no Exterior?

4 – O currículo de Daniel Alves é inquestionável, mas será que nomes como o do atleticano Guga, do flamenguista Rodinei ou mesmo do palmeirense Marcos Rocha não teriam mais chances de serem úteis no Catar?

Sei que vocês, agora, gostariam de me perguntar se torcerei a favor ou contra o nosso País nesta Copa. Mas a verdade é que não adotarei nem uma, nem outra postura. Há muito tempo, desde 2006, para ser mais exato, não dou a menor bola para a Seleção Brasileira, que se transformou num verdadeiro balcão de negócios escusos capitaneados pela CBF. E isso me revira o estômago muito mais do que a solicitação que o “foca” fez a Tite.

Eu nunca fui “pacheco”. E nunca serei.

PS.: Para os mais jovens que não conhecem a origem do termo “pacheco”, explico: tratou-se de uma jogada de marketing que nasceu quase dois anos antes da Copa do Mundo de 1982. Ao final de 1980, uma empresa de lâminas de barbear solicitou a uma agência de publicidade que criasse uma personagem, bem brasileira, que representasse uma unanimidade nacional. E nada mais popular que ela fosse ligada ao futebol. Nasceu, então, o Pacheco, rapidamente galgado à condição de torcedor-símbolo da Seleção Brasileira na Copa de 1982, na Espanha. O problema é que, apesar de um futebol fantástico e que encantou o mundo, a Canarinho não chegou sequer às semifinais e, por isso, a personagem passou a ser considerada sinônimo de bajuladora e também de “pé-frio”.

­­­­­­­­­Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br]



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